terça-feira, 27 de março de 2012

Criatura Mal-Amada



Vejam, belas donzelas, no que ele se transformou.
Olhem com teus pálidos olhos o animal que virou.
Mirem seus ocelos de fogo. Caiam no desespero.
A beleza que já era muito pouca se acabou.

Gritam apavoradas: "Oh! Coitado!"
Ao passo que, hesitantes, temem.
Mas que falsa pena dum bastardo!
Que grunhe enquanto tremem.

Quiçá não saibam, mas o que veem agora
Não é meramente que a morte não tem hora!
Tal demônio crescia de cada uma, outrora!
Incubado em entranhas frias que gemem.

Foi tratado com tão venenoso desdém.
Sua vida, odes e sacrifícios a esmo.
Suplicou amor em versos para alguém.
Achava que a pena valia, amava mesmo.

Mas não foi feliz, nenhuma resposta fluía.
Como rios que queria navegar e não podia.
Azar num jogo, maldição num triste amor.
Seu coração escureceu-se, perdeu calor.

As musas nunca lhe correspondiam.
Só mandavam beijos ao ar, prometiam.
Amor, querido sentimento de todos.
Aos outros vinha. "Inútil, pois, a tolos?"

E tolos como ele logo sucumbiam de fúria.
Mudavam tudo em sangue e lascas, revoltados.
Pois se a eles amar era tal amarga injúria
Aqueles que amassem deveriam ser aniquilados!

Desde então, o amor é seu mais ledo inimigo.
Um fantasma figurado em beldades a combatê-lo.
Sua maldição é a sombra presunçosa de um idílio.
Senhoras, fizeram-no, mas não podem empecê-lo!

Enlouqueceram-lhe com tuas prerrogativas.
Obsequiaram-lhe esperanças em missivas.
E logo a cortina vermelha caiu; ele percebeu:
Todo seu esforço idilista e cego se perdeu.

Mataram-lhe, sim, uma parte, sem lamento.
Jogado nas trevas, almejava sem amor voltar.
Assim o fez, retornou vingativo num só intento:
Fazer-lhes por tanta ingratidão e desdém pagar!

2009
(PHP)


Ps.: Estou desde a semana passada na produção de um "Conto-quase-novela". Obviamente ainda não o terminei, mas, para não deixar "a água parada e dar criadouro ao mosquito do ostracismo", pensei que poderia postar alguma coisa de poucas que ficaram bem produzidas num tempo bem remoto onde eu escrevia. Li. Reli. Copiei. Colei. Reeditei (muito, pela segunda vez ou terceira na história deste poema, inclusive alguém aí com um "M" estampado na testa já o deve ter lido, eu mesmo o li novamente e achei que com esses reajustes ele ficaria bonzinho, pois estava mais descabelado que quenga de côco podre). Cá está um dos meus "doces favoritos". Ah, já ia esquecendo, antes mesmo de iniciar a produção do referido "Conto-quase-novela" acima, já havia iniciado um "Não-sei-o-quê" intitulado "Ululante". Algo com a temática parecida com a deste poema, mas em poucos aspectos. Espero terminá-lo também, NOSSAEUADIODEMAIS! *NOSSAVOCÊESCREVETUDOJUNTONÉCARA!?* (Riãsus)

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